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29 de maio/2020—————André Cristiano dos Santos, diretor Administrativo do Sinmed-MG e médico de família no Centro de Saúde Dom Bosco, regional Noroeste, na capital mineira, conta como está a demanda de atendimento em sua unidade em relação à COVID-19 e sobre o fornecimento de EPIs pela Prefeitura. Aborda também a questão dos pacientes crônicos, que não podem ser esquecidos.
Com a nova orientação para os pacientes procurarem os centros de saúde mesmo com sintomas leves da COVID-19 como está o atendimento ?
Quando começou o isolamento, a orientação inicial era que a população procurasse a unidade somente quando realmente necessário e os casos leves aguardassem em domicílio. Com isso, houve uma queda significativa da demanda, embora continuássemos a realizar os atendimentos dos casos agudos, mas mesmo esses em menor intensidade que o habitual.
Com a nova orientação, nas duas últimas semanas a unidade vem registrando um aumento gradual da demanda, 25% maior que no início do isolamento, mas ainda bem menor que a demanda normal. Além disso, os casos suspeitos aumentaram, requerendo em alguns casos um encaminhamento para a UPA.
Como os centros de saúde estão fazendo o controle das doenças crônicas, já que muitas pacientes “sumiram” e podem ter seu quadro agravado?
No início houve uma queda importante no acompanhamento dos pacientes crônicos, até por conta do isolamento. O alongamento dessa situação trouxe uma preocupação muito grande na equipe com a possibilidade de “descompensação” desses pacientes. Muitos são casos graves, de um manejo complicado, e que se não forem avaliados podem estar em risco. Para organizar essa situação no Dom Bosco, cada equipe preparou uma planilha com todos esses pacientes crônicos para uma auditoria clínica com questões como: quando foi a última consulta? qual o resultado dos últimos exames? havia exames a serem apresentados? fatores de risco? etc
A partir desse levantamento, criamos um índice de vulnerabilidade de risco para o agravamento do quadro de saúde de cada paciente e iniciamos os contatos com os casos mais urgentes. Para o paciente não correr risco, a avaliação presencial é feita com horário marcado e numa área reservada para minimizar os riscos. Também dividimos as equipes – deixando duas para o atendimento de casos agudos e outras duas para o atendimento dos crônicos.
O sr. considera que os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) estão adequados nos Centros de Saúde da capital?
Tivemos inicialmente uma dificuldade grande com o fornecimento dos EPIs. Tivemos que fazer uma organização dos atendimentos, com a montagem de equipes específicas para os sintomáticos respiratórios, que são aqueles casos onde poderia haver suspeita da COVID. Para essas equipes, conseguimos que a Prefeitura fornecesse os EPIs completos – gorro, luvas , máscara e capote. Para as equipes que não estão atendendo os sintomáticos respiratórios, conseguimos a garantia da máscara para todos.
Então, com essa forma de organização foi possível “economizar” os EPIs, que estavam realmente escassos, e garantir a proteção dos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem na linha de frente desses atendimentos. A prefeitura agora, além dos EPIs mencionados, está fornecendo o “face shield”, aquele escudo que protege o rosto todo.
Os médicos de família estão sofrendo pressão por parte dos pacientes para o uso de medicamentos como a cloroquina?
Sobre a cloroquina, alguns pacientes questionaram, mas eu expliquei como se daria ou não a prescrição desse medicamento. Felizmente, não sofri nenhuma pressão nesse sentido. Existe sim uma curiosidade, por essa discussão toda que está sendo feita na mídia, mas estou conseguindo contornar. Além disso, na atenção primária não temos acesso a exames confirmatórios da doença, só realizados em pacientes internados. Então, não tenho nem como confirmar se o paciente que estou atendendo tem ou não a doença.