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    “TEMPO, TEMPO, TEMPO… COMO PODEMOS DESCREVER O TEMPO EM QUE VIVEMOS?”

    14 de maio—— Artigo de Walnéia Moreira, médica do Trabalho e diretora de Saúde do Trabalhador do Sinmed-MG

    Em tempos de pandemia, os médicos vivem momentos de tensão física e psicológica, além do cansaço pelo intenso trabalho na linha de frente dos atendimentos.
    A piora da saúde mental dos profissionais tem sido crescente em todo o mundo, trazendo o aumento do número de mortes, o medo do contágio e o cansaço pelas exaustivas jornadas de trabalho.
    Os desafios impostos pela Covid-19 somam-se à realidade que acompanha os profissionais de saúde que já fazem parte das estatísticas com taxas superiores de problemas mentais como Burnout, uso de drogas e suicídio, em relação à população como um todo.
    Diante dessa situação, o Sinmed-MG destaca a importância de debater com clareza e sem tabus esse tema que afeta a categoria médica e os estudantes de medicina.
    O artigo abaixo da médica do Trabalho e diretora de Saúde do Trabalhador, Walneia Moreira traz uma importante reflexão sobre o assunto.

    Para alguns, tempo de reflexão e talvez até gratidão. Gratidão pela oportunidade de evoluir, gratidão por ter uma casa onde possa se isolar, gratidão por ainda ter trabalho, gratidão pela saúde e poderia ficar aqui enumerando gratidão, gratidão e gratidão.
    Mas para outros, tempo de sofrimento. Sofrimento por não ter onde se abrigar, sofrimento por não ter trabalho, sofrimento por não ter o que comer, sofrimento por estar longe de pessoas amadas.
    E me pego pensando sobre dois colegas médicos, no mesmo dia, num mesmo tempo, não foram capazes de superar o sofrimento e decidiram partir para outra morada. Sei que o sofrimento deles não era por falta de abrigo, falta de trabalho ou do que comer. Talvez estivessem longe das pessoas amadas, sabemos que muitos colegas estão residindo em hotéis, com receio de contaminar a família; mas, se assim fosse, sabiam que se trata de situação passageira.
    Tento exercitar a empatia, colocar-me no lugar do outro e sentir o sofrimento do outro, sentir o desespero que faz querer morrer, querer se livrar daquilo que finca como lança no fundo da alma.
    É preciso tentar entender o que a pandemia está causando nas pessoas, muito mais que febre, tosse e dispneia; causando na alma. Que vírus é esse, que se não mata “organicamente”, mata espiritualmente…
    As Escolas de Medicina precisam passar a ensinar mais do que estão nos livros acadêmicos, hoje livros virtuais. Que pena tenho dos jovens médicos, já não têm o prazer de sentir o cheiro de um livro novo e marcar com caneta colorida o importante. Como era bom comprar um livro novo e ir navegando no até então desconhecido!
    As escolas precisam ensinar o amor ao próximo e enxergar a necessidade do outro, mas antes, a sua própria. As escolas precisam ensinar que, antes de cuidar do outro, é preciso cuidar de si. Ensinar que medicina é vocação, é amor, e para ser médico tem que gostar de gente, e ser médico é também ser gente. Ensinar que tantas vezes vale mais um abraço do que um medicamento.
    Mas sumiram os abraços, sumiram os beijos, sumiu o carinho físico e até o aperto de mão. Nós, médicos, já não podemos chegar em casa e beijar nossos familiares, nem mesmo abraça-los. Vivemos o medo constante de levar o vírus para dentro das nossas casas. Medo de contaminar nossos pais, familiares com comorbidades e até mesmo filhos.
    Então, caros colegas, penso que o que podemos fazer nesse momento é sim dar o nosso melhor, mas ser a porcentagem que conseguirmos ser. Ser o nosso melhor de hoje e acreditar que já está muito bom. Não se comparar com os outros pois cada um calça os sapatos que melhor cabem nos pés. E, mesmo se nesse momento o sapato esteja incomodando, lembre-se de que esse tempo irá passar e que novos sapatos virão!