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    “HORIZONTES VIRAIS”

    ARTIGO DO DIRETOR DE DEFESA PROFISSIONAL DO SINMED-MG, ARTUR MENDES ANALISA O ATUAL MOMENTO DA PANDEMIA COVID-19

    Depois de muito ler sobre a pandemia, sendo médico na linha de frente, considerei poder refletir sobre o tema. Sem esperar trazer “a” verdade, resolvi compartilhar a verdade que tem guiado meu coração nesses dias.

    Médico brasileiro é espetacular! A Medicina no Brasil se mobilizou e apontou um caminho. Peitamos prefeitos, governadores e até o presidente da República. Dissemos “olha, tem de ser esse o caminho”, fizemos valer nosso entendimento. “Ah, a economia”; “Ah, o ano letivo”; “Ah, minha festa de casamento”…

    Esquece: preservar vidas é nossa missão. Diante do imponderável, mobilizamos (e desmobilizamos) recursos mil ao longo do Brasil.

    Contudo, nos encontramos em uma situação peculiar em relação ao restante do mundo: afinal, não entramos ainda em colapso sanitário (fora os locais que já eram por si só colapsados).

    A primeira explicação é que agimos a tempo. Em outros países com classe médica apenas supostamente relevante o caos está instalado devido à demora em agir (vide os EUA).

    Ronda ainda a hipótese do clima (o vírus não gostaria do calor dos trópicos, mas por outro lado se esbalda no inverno, que no nosso caso não tarda).

    Ficamos então como aquela pessoa que segue por uma montanha atrás de um tesouro e alguém lhe grita do início: ” talvez esteja aqui…”. Já não sabemos agora se é caso de descer ou continuar a subir…

    Há quem diga tudo não passa de uma gripezinha e morrer todo mundo morre. Além de assustar que alguém tenha uma fala desse teor, os fatos desmentem: tem muita gente morrendo, mais do que esperado e em grupos inesperados.

    Outro gestor acha que o vírus precisa circular. Uma aposta perigosa. A ideia de “estamos prontos, pode soltar o leão” demonstra que se conhece pouco a realidade dos rincões do estado.

    Outro tipo diz que o pior está por vir. Mas, sem testes, quando chegar esse momento talvez não venhamos a perceber. Acostumados a dificuldades no serviço de saúde, relativizamos alguns apertos, que podem já ter acontecido, e seguimos em frente.

    Divulga-se foto de leitos vazios, só tardiamente lembrando que são uma bênção diante do que ocorre na Espanha, onde não existe mais onde colocar ninguém.

    Há os defensores da cloroquina. Mas há muito a medicina sabe que não existe remédio milagroso que possa ser defendido apenas por convicções pessoais. Hipócrates já marcava no primeiro aforisma médico:”… a experiência é enganadora, o julgamento difícil…”.

    Há também os defensores da economia. Estaríamos à beira de outro tipo de caos que pode também causar mortes (além de menos viagens à Disney). É verdade, mas como médicos, mesmo considerando os determinantes sociais da saúde, talvez devêssemos bater menos pela abertura do comércio e então clamar por ajuda financeira aos indivíduos e pequenas empresas. Os bancos também recebem ajudas assim há anos. Não se encaixa na minha consciência mandar as pessoas para o abate e rumo a mortes (des)”necessárias”.

    Lições vão ficando:

    – os políticos não se preocupam conosco. Existem os que aproveitam para fazer compras superfaturadas e aqueles que iniciam precocemente campanhas para o Planalto.

    – a economia funciona com gente, não números. Cuidar das pessoas precisa ser central em qualquer planejamento.

    – a música e a literatura têm tornado esse isolamento mais suportável. Que nunca mais se desdenhe dos artistas. São “médicos” também, ao seu modo.

    – o pagamento por serviços médicos deverá ser repensado para valorizar a gestão do cuidado. Telemedicina precisará avançar e dúvidas por telefone também são uma forma de exploração.

    – o sistema de saúde não está bem e cuidar dele deve ser prioridade, como temos apontado enquanto categoria há anos.

    – médicos e enfermeiros precisam de reconhecimento. Não como jogadores de futebol, como se tem falado por aí (são salários determinados por outro tipo de lógica). Mas com certeza merecem mais respeito do que hoje têm.

    Não poderíamos ter agido de outra forma. O único modelo que tínhamos nos apontava o desastre. Talvez Deus seja brasileiro e por milagre passemos melhor que outros países por esta pandemia, mas acredito que tínhamos de fazer do mesmo jeito que fizemos e temos feito.

    Agora, lembrando da imagem lá atrás da pessoa na montanha, me parece que a resposta não é sobre subir ou descer. Nesse momento, a única coisa responsável é sentar e observar a paisagem, esperando que dessa altura agora a gente possa enxergar a chuva que vier, se vier, e se preparar para ela. Todos juntos!

    Artur Mendes – médico de Família e Comunidade, diretor de Defesa Profissional do Sinmed-MG