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    Artigo do presidente do Sinmed-MG publicado no Portal FMB- O desafio da fixação médica no interior do Brasil: uma perspectiva crítica

    Data da publicação: 6 de março/2024

    Leia abaixo o artigo de autoria do presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Jordani Campos Machado, para o Portal FMB(Federação Médica Brasileira): “O desafio da fixação médica no interior do Brasil: uma perspectiva crítica”.

    Ele aborda pontos importantes sobre a distribuição desigual de médicos no país e as consequências que implicam no trabalho médico e na sociedade. Leia abaixo:

    A saúde pública é um direito garantido pela Constituição Federal, e a universalidade de acesso aos serviços de saúde é um princípio fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, a efetivação desses direitos enfrenta obstáculos significativos, atualmente, especialmente quando se trata da distribuição geográfica dos profissionais de saúde no Brasil.
    Como diretor-presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) e conselheiro fiscal da Federação Médica Brasileira, tenho observado de perto as dificuldades enfrentadas na fixação de médicos em cidades do interior do país. Esse é um desafio que transcende a oferta salarial e parte de princípios essenciais que são as condições de trabalho e qualidade de vida dos profissionais envolvidos.
    O estudo de Demografia Médica 2023, realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) destaca uma realidade preocupante: enquanto a média nacional de médicos para cada mil habitantes é de 2,18, cumprindo a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), essa proporção varia drasticamente entre as capitais e os de mais municípios. Tal dado reflete uma distribuição desigual que compromete o acesso à saúde em muitas regiões do país, especialmente nas mais remotas e carentes.
    Sabemos que a questão central não é a falta de ofertas de emprego ou a remuneração oferecida aos médicos. Muitos profissionais, mesmo diante de propostas salariais atraentes, optam por não se estabelecer em cidades do interior devido às condições precárias de trabalho, infraestrutura inadequada, falta de suporte para o exercício da medicina e, muitas vezes, a ausência de qualidade de vida que esses locais oferecem.
    Esse cenário desestimula a fixação de médicos nessas regiões, levando-os a preferir centros urbanos maiores, onde encontram um ambiente de trabalho mais estruturado e opções diversificadas para o desenvolvimento pessoal e profissional.
    O resultado dessa preferência é uma sobrecarga para os poucos médicos que se dispõem a trabalhar no interior. Esses profissionais enfrentam jornadas extenuantes, com demandas que superam sua capacidade de atendimento, afetando diretamente a qualidade dos serviços prestados.
    O trabalho excessivo compromete a saúde física e mental dos médicos, expondo-os a condições como o esgotamento profissional (Burnout).
    Além disso, impacta negativamente a eficácia do atendimento ao paciente, podendo levar a diagnósticos tardios, tratamentos inadequados e, em última análise, ao comprometimento da saúde da população.
    É imperativo reconhecer que a solução para esse desafio exige uma abordagem multifacetada. Não basta apenas oferecer melhores salários; é necessário investir na infraestrutura dos serviços de saúde, no suporte profissional e na qualidade de vida das regiões interioranas.
    Isso inclui desde a modernização de hospitais e clínicas, passando pela oferta de educação continuada e oportunidades de desenvolvimento profissional, até a garantia de serviços básicos e opções de lazer e cultura para os médicos e as suas famílias.
    Além disso, políticas públicas voltadas para a valorização da Medicina de Família e Comunidade, assim como programas de incentivo à fixação de médicos no interior, precisam ser fortalecidas e expandidas. Existe a necessidade de um compromisso conjunto entre governos, instituições de saúde, universidades e a sociedade civil para enfrentar essa questão. E muito mais que isso: de medidas efetivas que possam mudar esse cenário que afeta a todos: profissionais e população.
    A distribuição igualitária de médicos no interior do Brasil não é apenas um desafio logístico ou financeiro; é uma questão de equidade, justiça social e direito à saúde. Ela precisa considerar o índice populacional, as necessidades estruturais e tudo isso pode ser feito por meio de um estudo conjunto entre entidades médicas, gestores e sociedade.
    Somente por meio de um esforço coletivo e estratégias bem planejadas poderemos superar esse obstáculo e garantir que todos os brasileiros, independentemente de onde vivam, tenham acesso a serviços de saúde de qualidade. E nós, como representante do Sindicato dos Médicos de Minas, temos batalhado para que esse cenário sombrio e duvidoso, mude. Buscamos o diálogo, as negociações e participações em fóruns ativos junto aos gestores, como forma de abrir as portas para melhorias efetivas. A saúde é um bem precioso, e cuidar dela exige dedicação, estrutura e, sobretudo, respeito aos profissionais que se comprometem diariamente a salvar vidas.
    É hora de unirmos forças para criar um sistema de saúde que valorize seus trabalhadores tanto quanto valoriza os pacientes que eles servem”.