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    NA LINHA DE FRENTE: Maurício Góes, diretor Jurídico Associativo do Sinmed-MG, membro do grupo de coordenadores de CTIs de Belo Horizonte e um dos signatários das cartas dirigidas aos gestores e população avalia os principais problemas no enfrentamento à COVID-19 e a atuação do sindicato no apoio aos médicos durante a pandemia.

     COMO MÉDICO INTENSIVISTA, MEMBRO DO GRUPO DE COORDENADORES DE CTIs DE BELO HORIZONTE E DIRETOR DO SINDICATO, O SR. TEM UM QUADRO BEM COMPLETO DA SITUAÇÃO DA PANDEMIA DE CORONAVÍRUS. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES NO ENFRENTAMENTO DA COVID-19 EM MINAS GERAIS?

    A pandemia em Minas Gerais  tem trazido uma série de dificuldades para os médicos,  principalmente para os intensivistas, aqueles que estão na linha de frente no atendimento dos pacientes graves nas UTIs, mas  também para aqueles que atendem pacientes no pronto socorro, enfermarias e unidades de saúde.  Sobre as dificuldades gostaria de destacar:

    Falta de anestésicos e medicamentos – Além de todos os problemas, o que mais tem nos assustado de um tempo para cá é a falta de alguns medicamentos essenciais para entubação e para manutenção da ventilação mecânica. Isso não se deve somente à falta de previsão das compras, mas também à dificuldade de aquisição desses insumos em outros países, principalmente China e Índia, com o grande aumento da demanda. A falta desses medicamentos coloca em risco a vida do paciente e o trabalho do médico, que precisa, muitas vezes, utilizar outros que não são de primeira linha e que podem provocar efeitos colaterais.

    Falta de ventiladores mecânicos –  A falta de ventiladores, fundamentais para o tratamento de pacientes graves,  é uma situação real. Aqui, também, o fato da maioria ser produzida em outros países, como China e Estados Unidos, tem acarretado dificuldade na aquisição. Com isso, começaram a surgir equipamentos de baixa qualidade que não são indicados para a manutenção de pacientes graves em ventilação mecânica.

    Falta de médicos e profissionais de saúde – Outro problema é a falta de médicos, porque o intensivista, aquele médico que cuida de pacientes graves nas unidades de terapia intensiva, é um profissional que passa por treinamento de pelo menos dois anos, para ter essa formação.  São profissionais qualificados não somente para entubar e manter a ventilação mecânica, mas também para lidar com todas as intercorrências que esses pacientes apresentam durante a internação no CTI. São pacientes muito graves, que ficam internados em média 21 dias, muito complexos do ponto de vista de tratamento, que necessitam de uma equipa treinada, não só de médicos, mas enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, trabalhando em conjunto para que ele se recupere.

    Adoecimento das equipes – Além disso, temos visto médicos, fisioterapeutas, enfermeiros adoecendo porque estão mais expostos ao vírus e ao estresse, desfalcando ainda mais as equipes. Temos também o grupo de risco, acima de 60 anos, cardiopatas etc que são obrigados a sair da linha de frente em função das comorbidades que possuem.

    Falta de equipamentos de proteção individual – Um outro problema que tivemos que enfrentar,  principalmente no início da pandemia e ainda acontece em alguns lugares,  é a falta de equipamentos de proteção individual, fundamentais para reduzir o risco de contaminação pelo vírus que é extremamente contagioso.

    Baixo número de testes – Entre os estados do Brasil, Minas é o que menos realizou testes da COVID, que são de fundamental importância. Os países que mais testaram tiveram mais sucesso no controle da doença. Além do baixo número de testes, a qualidade também deixa muito a desejar. Seria muito importante fazer a testagem regular dos profissionais de saúde e, também, por amostra, a população,  para ver como está sendo a circulação do vírus  e com isso definir melhor políticas  de controle da doença.

    Falta de sintonia entre governo estadual e prefeitura de Belo Horizonte – Infelizmente a gente vê essa falta de sintonia num momento em que governo do estado e a prefeitura deveriam trabalhar juntos, de forma harmônica, para resolver os problemas que estão ocorrendo, como a falta de leitos.   O grande prejudicado com as “briguinhas politicas” é a população.

    COMO O SR. AVALIA A ATUAÇÃO DO SINDICATO DOS MÉDICOS NESTE PERÍODO DA PANDEMIA?

     O trabalho do Sindicato dos Médicos tem sido de fundamental importância neste momento, no sentido de acolher, proteger e defender os médicos. Destaco aqui o nosso canal de denúncias (via Whatsapp ou e-mail), que já recebeu quase 200 denúncias, principalmente em relação à falta e ao uso incorreto de EPIs e condições de trabalho. A grande maioria das denúncias foram devidamente resolvidas com a atuação do sindicato, que fez contato com hospitais, prefeituras e locais onde estava ocorrendo a falta de equipamentos.

    Desde que a pandemia começou, o sindicato intensificou as suas ações de comunicação, no sentido de informar e orientar os médicos, além de uma presença constante nos veículos de imprensa para repercutir assuntos de relevância relacionados à pandemia, voltados principalmente para a situação dos médicos.

    Destaco também a atuação do nosso departamento Jurídico, que tem dado todo o apoio às demandas dos médicos relacionadas a afastamento de trabalho, condições de trabalho, EPIs e inúmeras situações em que os direitos da categoria são aviltados, obtendo muitos resultados positivos.  Mesmo com a pandemia, a equipe de advogados e os demais departamentos do sindicato continuam a postos e atuantes na defesa do trabalho do médico. 

    RECENTEMENTE, O GRUPO DE COORDENADORES DE CTIS, DO QUAL O SR. FAZ PARTE,  LANÇOU DOIS MANIFESTOS ALERTANDO PARA O AGRAVAMENTO DO NÚMERO DE CASOS DA COVID-19. QUAL O IMPACTO DESSA INICIATIVA?   

    Nosso grupo, integrado por coordenadores de CTIs na capital mineira,  tem monitorado de maneira contínua a questão das vagas em Belo Horizonte. Nas últimas três semanas, assistimos a uma redução drástica no número de vagas nas unidades de terapia intensiva, além do aumento dos casos graves que necessitam de ventilação mecânica.

     As cartas tiveram realmente um impacto muito grande. Foi uma iniciativa no sentido de alertar os gestores e a população sobre a gravidade da situação, para que redobrem os cuidados com isolamento, uso da máscara, distanciamento, higiene das mãos e equipamentos de proteção individual.  Só reduzindo a circulação do vírus, reduziremos a possibilidade de muitas pessoas adoecerem ao mesmo tempo e ficarem sem atendimento. Com a falta de leitos de UTIs, nossa preocupação é que pacientes comecem a ter que esperar nas UPAs, nos prontos-socorros e isso já está acontecendo tanto na rede pública como privada.

    COM TANTOS PROBLEMAS, O SR.  ACREDITA QUE AINDA É POSSÍVEL CORRER ATRÁS DESSE PREJUÍZO? 

    Precisamos continuar acompanhando de perto a situação, denunciando sempre aquelas situações em que o estado e a prefeitura não têm agido de forma correta, principalmente na questão da abertura de novos leitos. Esse é o momento de abrir o hospital de campanha para dar apoio aos hospitais e à população. O problema é que realmente deixaram para montar essa equipe na última hora. Não é uma questão de falta de médicos, mas conseguir essa mão de obra qualificada neste momento, quando todos já estão empenhados, é muito difícil. Porém, não estamos desanimados. Continuamos firmes e, se Deus quiser, vamos vencer essa pandemia.